A saga de Morro Azul tem três etapas. A primeira delas foi
conhecer o percurso através do evento Ecomountain, onde corri em dupla com o
Leandro Bissoli. A segunda foi, após fazer amizade com a turma do Off Road
Bikers, que também estava no evento, marcar um rolé por aquelas bandas e ter
oportunidade de refazer aquele percurso que considero um dos melhores pelos
quais já passei. A terceira foi uma nova reunião, exatos 9 meses após a
segunda, onde levamos mais amigos para conhecer o lugar.
Cada uma delas teve seus causos, que vou contar a seguir.
Ecomountain MTB – 24/06/2012
Nível de perrengue: 2
Entre os eventos de 2012 surgiu o Ecomountain MTB, em
Engenheiro Paulo de Frontin (RJ). Como em abril do mesmo ano havia participado
de uma competição em Vassouras, que é bem próxima a Paulo de Frontin, resolvi
encarar mais este desafio. Resolvi correr em dupla e convidei o Leandro Bissoli
para encarar o desafio.
Combinamos de sair cedo
de Juiz de Fora no dia da competição e assim o fizemos. Algum tempo
depois já estávamos a postos para a largada. Encontramos o Wiliam e o Guilherme
do Off Road Bikers, de Volta Redonda, que também correriam a prova.
Wagner e Leandro |
Logo foi dada a largada e o comboio seguiu controladamente
atrás da moto da organização até um ponto específico onde “o pau começou a
quebrar”. Havíamos estudado a altimetria da prova e, basicamente, eram três
situações no percurso Pró: 20 km iniciais descendo suavemente, 20 km no meio da
prova subindo suavemente e os outros quase 20 km de relevo acidentado, com um
imenso downhill e uma longa subida até a chegada.
Pois bem, largada dada e pernas girando freneticamente. Os
bikers da dianteira logo impuseram ritmo forte e o Leandro, que estava bem mais
preparado que eu, seguiu adiante. Eu, me matando já no início de prova, tentava
acompanhar a quebradeira.
Até então estávamos em um pequeno aclive que serviu para
diluir o massivo pelotão da largada. Aos poucos uma longa fila de bikers se
formou no estradão, pedalando furiosamente. O comprimento dessa fila aumentava
e ao mesmo tempo ia se dissipando em pequenos grupos.
Logo estávamos revezando com outra dupla, que vinha em ritmo
forte e foi reconhecida pelos numerais. Um dos bikers, que não estava em tão
boa forma, tinha uma bike aro 29”, nitidamente mais apropriada para aquele tipo
de terreno naquele ponto da prova, e assim conseguia imprimir um bom ritmo que
era acompanhado por seu parceiro.
Eu e Leandro começamos a colar neles e acabamos mexendo com os brios da dupla, que a cada ultrapassagem revidava com mais força e velocidade. O Leandro comprou a briga e puxava a revanche, e eu sofrendo logo atrás, me esforçando para aguentar o ritmo daquela disputa ainda no primeiro terço de prova. O biker de aro 26" mostrava serviço na subida e o de aro 29" impulsionava nas descidas e no plano. Fazíamos frente a esta dupla principalmente nas subidas.
Eu e Leandro começamos a colar neles e acabamos mexendo com os brios da dupla, que a cada ultrapassagem revidava com mais força e velocidade. O Leandro comprou a briga e puxava a revanche, e eu sofrendo logo atrás, me esforçando para aguentar o ritmo daquela disputa ainda no primeiro terço de prova. O biker de aro 26" mostrava serviço na subida e o de aro 29" impulsionava nas descidas e no plano. Fazíamos frente a esta dupla principalmente nas subidas.
Providencialmente o pneu do Leandro furou e consegui um
tempo para respirar durante a troca. Para ele pareceu ser um balde de água
fria, pois realmente ele aguentaria levar aquela disputa de posições até o
final. Eu, no entanto, teria morrido dentre em pouco. No fim das contas, o
imprevisto acabou sendo benéfico, pois seguimos depois num ritmo mais coerente
com (a ausência de) meu preparo físico para uma prova de 60 km.
Ponderei com o Leandro que logo alcançaríamos as primeiras
vítimas daquele ritmo ensandecido. Assim que alcançássemos o segundo terço de
prova e iniciar o aclive, era mais do que certo de que recuperaríamos muitas
das posições perdidas na troca de câmara.
Seguimos mantendo boa velocidade, agora bem dispersos de
outros bikers, mas sem quebradeira. Boa parte deste trecho era o caminho do
Bike Tour Vassouras em sentido inverso. Não
demorou a iniciarmos a parte de subida e, como previsto, começamos a alcançar
os competidores que nos ultrapassaram. A cada posição recuperada parecia haver
uma injeção de ânimo.
Sempre atentos aos numerais, procurávamos pelas duplas. A
ultrapassagem nestes casos tinha sabor diferenciado.
Finalmente chegamos à localidade de São Sebastião dos
Ferreiros, onde recebemos a notícia no ponto de apoio de que estávamos na
sexta posição entre as duplas, sendo que da quinta dupla havia passado apenas
um competidor. Pelo regulamento estávamos então em quinto, o que já era pódio.
Instantaneamente começamos a pedalar feito loucos, na busca de outras duplas.
Estávamos aí com cerca de 38 km de prova concluídos.
Fomos ultrapassando outros bikers em ritmo forte, e o relevo
já oscilava. Vencido o segundo terço da prova, estávamos agora dentro dos
limites de Miguel Pereira. Na troca de câmara o Leandro havia usado cerca de
meio refil de CO2 para inflar o pneu e estávamos desconfiados que o pneu
estivesse esvaziando. Nossa principal preocupação agora era novo furo que
pudesse por tudo a perder. E se o pneu estivesse mais murcho, as chances do aro
morder a câmara eram altas.
Passamos dentro de um haras e iniciamos uma forte subida,
porém curta, em uma estradinha de terra que ziguezagueava pelo morro e
terminava reta entrando em uma mata. Mais algumas ultrapassagens nesta subida e
lá no alto passamos por uma equipe de Paracambi que recuperava as forças e
aguardava alguns companheiros. Olharam para o pneu do Leandro e alertaram que
estava vazio. Só aumentava a preocupação. Conheciam o caminho e sugeriram
cuidado na descida a seguir, um “trecho muito travado” segundo eles.
O Leandro afirmou que estava tranquilo com o pneu, então
iniciamos a descida que embrenhava dentro de um trecho de mata. Cascalho, terra
solta,valetas, curvas fechadas, tudo se alternava e se misturava. Muitas
pessoas escolhendo onde passar, inclusive empurrando a bike, e nós seguíamos aproveitando
aquele terreno que, para quem estava acostumado com o downhill da Fazenda
Fortaleza de Sant’Anna (em Goianá, MG), era puro divertimento.
Logo alcançamos o asfalto, onde ficamos por poucos metros,
já que o percurso seguia à direita no melhor trecho da prova que estávamos por
conhecer.
O caminho seguia praticamente plano, subindo disfarçadamente
acompanhando as curvas de nível. Inicialmente descampado, o cenário foi se
transformando rapidamente ao adentramos um trecho de mata atlântica intacta.
Começamos a atravessar sucessivos cortes em pedra, o que indicava ser um leito
de ferrovia desativado. A mata era tão densa que à nossa direita a vegetação não nos
deixava ver além. Apenas era possível saber que havia um imenso
vale. À esquerda os paredões de pedra se revezavam com a floresta que avançava morro acima.
Imensos bolsões de lama isolados entre os paredões de pedra
forçavam os bikers a desafiarem o equilíbrio e a técnica. Um boi morto com o
pescoço quebrado no meio do caminho mostrava que uma queda por ali poderia ser
fatal.
Começamos a comparar o trecho com o Passa Um, no ponto onde
quase chegamos ao cume da mata. Mata fechada, muita umidade e ar parado, além
do visual, eram algo comum aos dois caminhos.
Uma fita zebrada indicava uma saída à direita daquele
caminho abandonado, que parecia levar a Miguel Pereira, em direção a uma
clareira no meio do pasto. Começamos a descer, entrando outra vez na mata. A
placa com três setas apontando para baixo dava certeza que um trecho técnico
estava por vir. O caminho afunilou e virou um single track. Em uma das curvas a mata se abriu e uma vista
esplêndida se abriu à nossa frente. Uma sucessão de morros delineava um enorme
vale, e aquela pintura misturava tons de verde, azul e dourado. Fomos tomados
de euforia e parecíamos duas crianças vibrando com aquilo tudo.
Toques sutis nos freios, pequenas derrapadas, pequenos
saltos transpondo pequenos obstáculos como raízes e pedras encravadas no
terreno, cruzando as valetas e controlando a bike no terreno escorregadio, tudo
aquilo era o paraíso do mountain bike. Comemorávamos pelo simples fato de estar
ali.
Estávamos novamente dentro da mata, aquela visão rápida e
inspiradora do vale à frente foi como um flash. Curvas se sucederam e fomos
descendo transpondo o terreno. Logo à frente, como a Janela do Céu em
Ibitipoca, as últimas árvores emolduravam novamente aquele visual do vale.
Abriu-se o horizonte e o single track seguia atravessando um imenso pasto,
sempre descendo serpenteando em direção ao fundo do vale.
Víamos lá embaixo os bikers que estavam à nossa frente.
Havia muito ainda a descer. O cenário parecia foto de revista, imagens daqueles
filmes gringos de mountain bike. A trilha em zigue-zague lá embaixo pontilhada
com uniformes coloridos enfileirados era uma cena que dava vontade de parar a
bike e ficar admirando.
O ritmo, porém, continuava forte: pernas e braços
complementavam o movimento dos amortecedores das bikes. À direita estava um
enorme penhasco; não era muito prudente desviar a atenção para o visual. A
descida continuava e parecia não ter fim. Conseguimos algumas posições a mais
nas ultrapassagens, mas era impossível olhar para trás e ver os numerais dos
outros como fizemos em outros trechos.
Algum tempo depois, já cansados da descida, a trilha
terminava em uma via larga calçada com blocos hexagonais de concreto, que ainda
descia mais, ao longo de várias curvas. Os braços já cansados da trilha agora
vibravam acompanhando as irregularidades do piso. Logo atingimos uma porteira e
em seguida um pequena ponte que cruzava um curso d’água. O caminho desembocou
em outra estrada, agora de terra, que subia à direita. Acabou aí a alegria da
descida.
Havíamos atingido o ponto mais baixo de todo o percurso e
agora nos restava a penosa subida de volta a Morro Azul.
Nas primeiras pedaladas comecei a ter câimbras terríveis nas
pernas, que se alternavam: hora atrás da perna esquerda, hora atrás da direita.
Logo vimos vindo logo atrás um dos competidores com numeral de dupla. Sem
sabermos se o parceiro dele estava à nossa frente ou não, começamos a forçar a
subida.
Algumas pedaladas e a câimbra atacava. Tentava alongar,
empurrava um pouco a bike, voltava a pedalar e começava na outra perna. Puro
sofrimento. E sempre olhando para trás tentando ficar à frente da outra dupla
(ou parte dela, não sabíamos).
Aos trancos e barrancos chegamos a um ponto onde a
inclinação diminuiu e fui conseguindo pedalar melhor. Alguns quilômetros à
frente atingimos o asfalto e agora até a chegada era apenas plano.
Sem esmorecer, baixamos as marchas e seguimos em direção ao
ponto de chegada. Os familiares nos aguardavam e cada biker que chegava subia em
uma rampa onde recebia a medalha de participação e dizia ao microfone suas
impressões sobre a prova.
Soubemos a seguir que chegamos em quarto lugar nas duplas e
a comemoração foi geral. Nosso primeiro pódio estava conquistado.
Fascinados com o percurso, mais precisamente com a parte
final, já saímos de lá pensando em levar os amigos para conhecer o lugar.
Primeira reunião – 06/10/2012
Nível de perrengue: 2
Planejamos o encontro com os amigos do Off Road Bikers, que
viriam de Volta Redonda e nos encontrariam onde havia sido a largada do
Ecomountain.
Meu carro tinha dado um problema e foi para o mecânico.
Combinei de pegar carona com o Ramon Ferreira, que me buscou perto de casa. Ao
chegarmos no posto do Parque da Lajinha em Juiz de Fora, ponto marcado para
encontrarmos o Leandro Bissoli e o Hebert Bordoni e seguirmos viagem, minha
bike foi transferida para a pickup do Leandro, que já carregava a bike dele e
do Hebert.
Wagner, Hebert e Ramon |
Os tirantes afrouxaram com o sobe e desce do veículo e nossa
sorte foi que o carro do Leandro estava bem atrás e freou. Descemos, pegamos a
bike que não teve nenhuma avaria e retomamos a viagem.
Ao chegarmos a Morro Azul, o Ramon descobriu que o
computador de bordo havia sido perdido na queda. Mas o pior foi a descoberta
seguinte: ele havia esquecido sua sapatilha em Juiz de Fora.
Pedimos informações na padaria e indicaram que havia uma
bicicletaria na rua perpendicular à que estávamos. Enquanto o pessoal tomava
café, o Ramon foi ao tal local, que ainda estava fechado. Voltou, lanchou
conosco, e novamente seguiu para a loja. Todos davam os últimos ajustes no
equipamento, conferiam capacetes, luvas, água, ferramentas, alimento... Nada do
Ramon voltar.
Resolvamos ir à bicicletaria. Entrando lá, na pequena
(entenda pequena mesmo) oficina estava a bike do Ramon virada com as rodas para
o alto, encaixada pelo seat tube em uma haste soldada a uma roda de fusca. Só nesta visão já percebemos que o
ferramental era precário.
O mecânico com uma chave de boca improvisada na mão fazia
força para um lado, tentava girar para outro e nada do pedal se mover. Leandro,
Ramon, eu e o mec(h)ânico dividíamos o apertado cubículo e revezávamos as
tentativas de retirar o pedal. Com bastante esforço um se soltou. Breve
comemoração até perceber que ainda faltava o outro.
A chave do mecânico foi desgastando, começou a escapar, e
alguém já tinha ido chamar o filho do moço que traria uma chave de boca
descente.
Entrou então na oficina a galera de Volta Redonda, que já
estava impaciente com a demora. “tem que dar choque” disse o Guilherme. A
técnica de golpear a chave não dava certo no stand improvisado, resolvemos
levar a bike para o lado de fora. Nisso chega o filho do mecânico, empunhando a
chave. “Tirar o pedal? É tranquilo!” ele falou. “Vai lá bonitão” foi o
pensamento da galera que estava há cerca de meia hora pelejando. Lógico que ele
não conseguiu.
6 homens e um segredo |
Enfim, instalamos uns pedais de plástico na bike e o Ramon
seguiu de tênis.
Finalmente Cadu, Guilherme, Hebert, Leandro, Ramon, Wiliam e
eu começávamos o rolé planejado. Optamos pelo circuito reduzido da prova,
passando pela Fazenda do Secretário.
Chegamos mais rápido a São Sebastião dos Ferreiros por termos eliminado 20 km do percurso Pró.
Ao passarmos pelo haras e iniciarmos a
primeira descida mais forte, o pessoal já começou a sentir um gostinho do que
os esperava à frente. Chegamos ao asfalto e todos já estavam elogiando o
percurso.
Chegamos mais rápido a São Sebastião dos Ferreiros por termos eliminado 20 km do percurso Pró.
Cadu, Wagner, Ramon, Leandro, Hebert, Guilherme e Wiliam |
Seguimos adiante, entrando no leito desativado da ferrovia.
Como da primeira vez, os bolsões de lama estavam lá, próximos aos cortes nas
pedras. Pausa para foto no paredão que o downhill estava perto.
Corte de pedra |
Ao chegar na clareira que dá acesso à trilha da descida, alertamos o pessoal para o tipo de terreno em que passaríamos e que não se distraíssem com o belo visual.
Cada qual a seu ritmo foi subindo e nos reencontramos no
topo, de volta à padaria onde deixamos os carros. Coca-cola gelada para
recompor a energia perdida. Rostos cansados, porém felizes e temporariamente
satisfeitos com a dose cavalar de adrenalina e mountain bike do final de
semana.
Segunda reunião – 06/07/2013
Níveis de perrengue: 2 e 5
Wagner, Rodrigo, Leandro, Hebert, Guido e Ramon |
O sol brilhava forte logo cedo, o céu de um azul intenso
mostrava que teríamos muito calor e belas imagens neste dia. Como na reunião
anterior, contávamos com três câmeras filmando o rolé.
Rumamos para o norte, em direção à Fazenda do Secretário. O
grupo seguia coeso, em ritmo forte. No estradão as bikes passavam rapidamente
lançando poeira para o alto. Se revezavam puxando o pelotão. Em pouco tempo
chegamos à fazenda e fizemos uma pausa para as fotos.
Retomamos o pedal e fomos passando pelos locais já conhecidos. Fizemos o downhill do haras, pegamos a rodovia e dali entramos na ferrovia desativada. A esta altura dois grupos se formaram. Na frente iam Cadu, Guido, Leandro e Wiliam. Atrás vínhamos Guilherme, Hebert, Ramon, Rodrigo e eu. Nos reagrupamos no paredão, para a tradicional foto, e assumi a dianteira afim de filmar todos com a câmera presa ao canote.
O bolsão de lama fez então sua vítima: ao tentar desviar
pelo canto, o guidão da bike do Wiliam enganchou em um cipó. Caiu praticamente
parado se esparramando na lama. “Machucou?”, “Filmou?”. A maior comemoração se
deu depois da resposta afirmativa para a segunda pergunta.
Iniciamos então a descida. Havia um pouco mais de mato que
na vez anterior, o que impedia de ver a trilha. Cada buraco era uma surpresa.
Terminamos a descida, reagrupamos e novamente o grupo se dispersou na subida. Nos reencontramos no ponto de partida. Foto em frente à praça local para registrar a chegada.
Felizes por mais um excelente rolé, cada um tomou seu rumo
com a promessa de fazermos um intercâmbio futuro de trilhas: Off Road Bikers em
Juiz de Fora e Barrigudos Bike Clube em Volta Redonda.
Veja outros pontos de vista:
Off Road Bikers - Ecomountain 2012
Off Road Bikers - Morro Azul 2012
Off Road Bikers - Morro Azul 2013
Veja parte do vídeo:
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Off Road Bikers - Morro Azul 2013
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