quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Expedição MTB - Juiz de Fora a Cabo Frio 2012

Juiz de Fora / Cabo Frio 17 a 20/10/2012
Níveis de perrengue: 1, 4, 7 e 10

O planejamento é a base de tudo. Invista mais tempo planejando e as chances de errar quando estiver executando serão mínimas.

E assim foi. O planejamento começou em meados de 2008. Após tomar conhecimento de um relato de viagem de 4 dias, feito por João Carlos Silveira e Marcelo Noronha em 2004, nasceu o sonho de completar este desafio.

Com um pouco de paciência consegui localizar o e-mail do João, que prontamente me atendeu com informações básicas sobre o percurso, um print screen do Trackmaker com o traçado e alguns waypoints com as principais localidades da região atravessada. Alguns dias depois, recebi um e-mail do Marcelo com algumas fotos da viagem deles, para inspirar. Estava lançada a pedra fundamental.

Nesta época eu não possuía GPS, e tampouco o Google Earth era uma ferramenta usual e com imagens atualizadas como hoje. O recurso disponível eram as cartas topográficas do IBGE, confeccionadas entre as décadas de 1970 e 1980. Apesar de serem documentos fabulosos, por serem repletos de informação, ainda assim possuem certa imprecisão e, principalmente, estão desatualizadas visto que se passaram mais de 30 anos do levantamento. Ou seja, nomes de fazenda mudaram, cidades e povoados surgiram, estradas mudaram de curso, trilhas apareceram, trilhas desapareceram, e por aí vai.

Mesmo assim não deixa de ser fascinante estudar um documento destes com suas curvas de nível e imaginar como, com a tecnologia disponível em 1970, um trabalho desta magnitude foi desenvolvido cobrindo a área de praticamente todo o território brasileiro por meio de aerofotogrametria e expedições de campo para a coleta de informações. O trabalho de confecção de uma carta levava, na época, até dois anos para ser concluído.

Meu primeiro contato com uma carta impressa (documento oficial) foi na faculdade, nas aulas de Estudos Hidrológicos. Até então, a única forma de se obter tal tipo de informação era comprando uma carta impressa do IBGE, uma folha gigantesca (provavelmente formato A0).

A partir de 2005 tais arquivos começaram a ser disponibilizados no site do IBGE e, com mais um pouco de paciência em minha pesquisa, consegui os arquivos com qualidade sofrível, onde boa parte das informações escritas eram ilegíveis devido à baixa resolução das imagens, geralmente arquivos com poucos KB.

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Manipulei as imagens tentando dar mais nitidez e clarear as informações. Em seguida imprimi tudo e começou o trabalho de estabelecer um traçado entre as localidades pré-definidas. Apesar de um traçado “tosco”, passando por caminhos desenhados há mais ou menos 30 anos atrás, tinha em mãos a primeira rota.

Em abril de 2009, com algum conhecimento adquirido em pesquisas sobre cartografia, entrei de férias e com este esboço e uma bússola em mãos, comprei um alforje vagabundo, arrumei uma mochila que pesava mais de 10kg (principalmente pelo mala-bike que ia dobrado dentro dela, para a volta) e anunciei em casa minhas pretensões. Logicamente fui dissuadido por minha família e namorada na época (que apesar disso virou minha esposa). Realmente, analisando agora, eu não estava bem preparado física e mentalmente. Além disso, havia excesso de peso da mochila e a distribuição errada deste peso sobre a bicicleta (estava concentrado no tal alforje traseiro).

Claro que na época nada disso foi percebido e a frustração foi convertida em 425 km pedalados nos arredores e cidades vizinhas. Porém, a idéia não havia sido descartada.

Minhas pesquisas nas cartas topográficas continuaram tentando achar um traçado mais adequado. Em pouco tempo, percebi que alguns dos arquivos digitais do IBGE estavam sendo substituídos por outros com melhor resolução. Fique claro que não se tratava de atualização. A vantagem é que as informações que antes eram ilegíveis não mais o eram.

Estranhamente algumas poucas cartas não foram substituídas, entre elas a de Juiz de Fora, a de Morro de São João e a de Cabo Frio. Não chegava a ser um problema, pois a região de Juiz de Fora era quintal de casa e nas proximidades do litoral o trecho a ser percorrido era sabidamente de asfalto. Apenas no caso de recorrer a um traçado off road no final que precisaria de maiores informações.

Diante disso meu primeiro trabalho foi montar um “mosaico” com as diversas cartas no Trackmaker, formando um único “mapa”, ou seja, uma carta topográfica gigante. Nela refiz o traçado, com a premissa de utilizar o máximo possível de estradas vicinais e trilhas e o mínimo possível de asfalto. A duração era baseada nos 5 dias de pedal, porém não me preocupava ainda com os pontos de parada.

Paralelamente o Google Earth se tornava popular e comprei meu GPS. Nos rolés que fazia na época passei a explorar as potencialidades que estas duas ferramentas juntas ofereciam ao mountain bike, principalmente na exploração de novos caminhos.

O “pulo do gato” foi então transferir a informação que eu havia criado no Trackmaker para o Google Earth. Com o traçado do percurso sobre a imagem de satélite, poderia corrigir (ou atualizar) toda informação que estivesse incorreta. O Google Earth possui uma pequena diferença de referencial em relação às cartas (provavelmente o Datum usado no programa é americano, não descobri como corrigir), mas é insignificante diante da escala que é usada na tela do GPS.

Outra vantagem: dentro do Google Earth o ponto abaixo do cursor tem sua elevação mostrada na tela, facilitando analisar se o percurso está subindo ou descendo. Além disso, outra ferramente é o perfil de elevação, que permite comparar diversos traçados, buscando um relevo mais adequado.

Desta forma, tracei ao longo do tempo diversos percursos intermediários, e fui comparando e selecionando os trechos que julgava mais convenientes. A esta altura, já em 2012, fechei um caminho principal que preservava algumas pequenas variantes. Comecei a definir os pontos de pernoite e cheguei à conclusão que faria em 4 dias. Eliminei uma variante bem grande que alongava bastante o que seria o 4º dia de um total de 5, que passava por um longo trecho de área inabitada e, consequentemente, sem ponto de apoio.

Finalmente programei minha viagem para o mês de outubro, devido a dois motivos: férias e pouca possibilidade de chuvas. A partida estava marcada para o feriado do dia 12, e novamente minha família não olhava a viagem com bons olhos. Tentei a companhia de alguns amigos, o que até ajudaria a amenizar as preocupações, mas ninguém topou. Mesmo assim preferi seguir a máxima de não deixar para amanhã o que pode ser feito hoje.

O que poderia ser problema de fato era alguma variação climática. Um percurso majoritariamente off road, com etapas de distância média de 100km, seriam muito árduas se feitas na lama ou barro ou, pior ainda, sob chuva. Podemos desafiar o cansaço, a dor, o equipamento... mas é imprudência desafiar o clima.

Na segunda-feira, 07/10, a previsão do tempo começou a mostrar que o final de semana do feriado seria de chuva. Tal previsão foi se confirmando ao longo da semana e culminou comigo abortando os planos na quinta-feira, véspera da data planejada para o início da viagem. Apesar disso, a despeito do que todos pensavam, não havia desistido e sim adiado os planos, visando uma “janela” de bom tempo que a previsão indicava na semana seguinte. Porém guardava os planos para mim, pois já estava farto das tentativas de dissuasão.

No dia 15, diante da confirmação de tempo bom, comecei a comunicar minha decisão. Alguns amigos e família, que por fim já não se opuseram tanto como eu esperava. Também já tinha me acostumado a ser taxado de maluco, doido, etc. Havia revisado a bike mais cedo e trocado o pneu dianteiro por um Continental Mountain King. O traseiro estava gasto, mas estava negociando um pneu novo pela internet. No fim da tarde bateu uma insegurança sobre a gancheira, pois o Bernardo havia quebrado uma no rolé da semana anterior. Fui à oficina, mas não tinha (apesar de ter sido informado o contrário por telefone).

A mochila já estava pronta, recheada pelos pertences de uma lista elaborada minuciosamente há cerca de 3 semanas atrás. Apenas como alteração, o fato de reduzir a quantidade na mochila e levar mais uma caramanhola no quadro da bike. Assim eliminaria 500g de peso nas costas e deslocaria o centro de gravidade do conjunto biker + bike para um ponto mais próximo do solo, o que daria mais estabilidade.

O kit de sobrevivência era composto por:
• Celular
• Saches de gel de carboidrato (dois por dia)
• Saches de isotônico em pó (dois por dia)
• Lubrificante à base de teflon
• Lubrificante com mais viscosidade (úmido)
• Canivete de ferramentas
• Composto de fibras (farelo de trigo, gérmen de trigo, linhaça, açúcar mascavo e passas)
• 1,5 litro de água (mochila) + 1,4 litro de água (caramanholas)
• Farol e pilhas
• Câmeras fotográficas
• Câmara de ar reserva
• Kit remendo
• Duas camisas extras de ciclismo
• Uma bermuda extra de ciclismo
• Uma camisa manga curta
• Uma camisa manga longa
• Cuecas
• Meias
• Itens de higiene pessoal
• Medicamentos (analgésico e antiinflamatório – não foram usados)
• Toalha (podia ter ficado em casa, tinha nas pousadas e hotéis)
• Papel e caneta (para anotações diversas)
• Carregadores de pilha e celular
Peso total da mochila: 6,5 kg

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Dia 1 - Juiz de Fora / Sapucaia 17/10/2012
Expedição Xisdifora - Cabufa MTB

Finalmente o grande dia chegou. O rolé épico, minuciosamente planejado, estava prestes a começar. Como a negociação do pneu não se concretizou a tempo, resolvi de última hora completar o nível do selante no pneu velho.

Havia acordado pouco depois das 6h00. O dia estava nublado, com temperatura agradável. Tomei o café, fechei a mochila e fui mexer com o pneu traseiro.

A bike estava no stand de manutenção ainda. Tirei a roda, esvaziei o pneu, completei o líquido e fechei. Como o pneu não é o próprio para tubeless e sim um modelo comum de kevlar, tive dificuldades em inflar. Vazava ar e selante por toda a borda que havia desprendido do aro. Girei a roda, mudei a posição, mas nada. Resolvi encher no posto, com compressor. Pouco antes depois das 8h00 estava de volta na garagem, com pneu cheio e sendo colocado na bike. Lubrifiquei a corrente e transmissão, limpei a sujeira do selante que vazou no chão.

Tomei um banho, pois já tinha começado a suar pelo corre-corre e uma ponta de nervosismo antes da saída. Tudo pronto. Foto na porta de casa e pé na estrada. Saí às 9h34 de casa, passando pela Avenida Rio Branco em direção à Graminha. Não estava acostumado a pedalar com uma mochila tão pesada, então os primeiros quilômetros foram um pouco desajeitados até achar a posição certa e a regulagem adequada dos tirantes da bagagem.

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Tudo pronto, hora de partir


Após a primeira subida, em plena Avenida Rio Branco, o horizonte se descortinava como uma sucessão de montanhas. A inesquecível cena sempre me volta à mente quando passo neste local, dirigindo ou pedalando. O peso da mochila me lembrava que desta vez a passagem por ali tinha outro significado: era apenas o início de uma grande jornada. Agora não tinha mais volta. Vencida a primeira descida, um pouco desengonçada pela falta de costume com a bagagem, atingi o asfalto da União Indústria e segui até Matias Barbosa, onde saí da estrada em direção à Serra do Mina. Dali em diante o primeiro desafio do dia: 6km de subida, partindo dos 494m e culminando em 782m de altitude. Descida até Sossego e mais uma subida de serra até Pequeri, aonde cheguei às 12h40. Pausa para o lanche.

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Vencida a Serra do Mina

A estratégia de alimentação todos os dias era tomar um café da manhã reforçado, iniciar a pedalada consumindo água e isotônico até por volta de 11h00, quando ingeria um sache de carboidrato. A partir de 12h00, parava na primeira lanchonete que encontrava e comia um salgado e uma lata de Coca-Cola. Seguia até 14h00, mais ou menos, onde ingeria o outro sache de gel e reabastecia a água, se fosse o caso. Caso julgasse necessário, tomava mais uma lata de Coca, para ajudar na reposição de sais minerais.

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Pequeri

Saí de Pequeri, agora já num trecho desconhecido por mim, sendo totalmente orientado pelo GPS. Acabou o calçamento da cidade e seguia agora por terra. Alguns quilômetros adiante surgiu uma bifurcação e, logicamente, segui pela esquerda devido à placa indicando Mar de Espanha por aquele lado. Inicialmente os caminhos seguiam praticamente paralelos e após cerca de 1 km percebi que tinha tomado a direção errada. Primeiro erro do dia.

Voltei e peguei o caminho correto, seguindo a indicação para Uricana. Começava aí uma descida longa e suave. Percebi que estava em um antigo ramal de ferrovia desativado, ao chegar à uma estação abandonada. A descida continuava, atravessando florestas de eucalipto. Cheguei então à estação de Estevão Pinto e, distraído com a edificação, segui novamente pela direção errada, acompanhando o leito da ferrovia. Logo percebi o engano, mas como havia um rio entre os dois caminhos e não havia notado nenhuma ponte, achei que poderia ter cometido um erro no traçado não percebendo a água e, como as vias estavam seguindo em paralelo, imaginei que logo surgiria uma ponte e as estradas se encontrariam. Lá na frente via um caminho transversal que julguei ser a ligação que esperava, porém antes disso surgiu uma porteira, indicando que estaria entrando numa fazenda, ao mesmo tempo em que o traçado que devia ter tomado virava bruscamente para a direita. A solução foi voltar e verificar onde havia errado e, justamente em frente à estação abandonada, havia um estreito caminho que mais parecia ser a entrada de um sítio que dava acesso a uma ponte estreita sobre o Rio Cágado. Novamente no caminho certo, segui a estrada prestando mais atenção ao GPS. Posteriormente verifiquei que realmente os caminhos se encontravam adiante, mas a decisão de não arriscar foi sensata.

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Estação de Uricana

A pedalada seguiu margeando o rio por um bom tempo, até que surgiu um pequeno aclive que me levou ao topo de uma colina por onde a estrada da esquerda conduzia à cidade de Mar de Espanha, chegando por trás da Igreja Nossa Senhora das Mercês. Segui contornando a cidade a leste, onde iniciou o terceiro desafio do dia, uma longa subida num estradão largo, pouco antes do local conhecido como Vale das Minervas, partindo dos 473m e culminando em 624m de altitude em cerca de 4km. A inclinação nem era tanta, mas a subida era penosa por já ter mais de 80km pedalados.

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Mar de Espanha

Deste ponto em diante, a maior parte do percurso foi em descidas longas, trechos planos e subidas curtas, pois Sapucaia estava a 228m de altitude. Até chegar à cidade, percorri um trecho de aproximadamente 8km bem monótono em estradão largo.

Logo avistei o Rio Paraíba do Sul e a ponte sobre a divisa dos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro. Estava alcançado o objetivo do primeiro dia, mas ainda enfrentaria uma pequena batalha para me hospedar.

Chegando ao único hotel da cidade, que é cruzada pela BR393, fui atendido pela mulher que estava no lugar da recepcionista que, segundo ela, havia saído para resolver problemas pessoais e voltaria às 17h00. Eram 16h40.
- Boa tarde! Qual o valor da diária?
- Não tem vaga pra solteiro.
- E pra casal, qual o preço?
- Setenta reais.

Estava dentro do planejado, e como não tinha outra opção, respondi:

- Ok, vou ficar – já me encaminhando em direção do balcão, empurrando a bike, com capacete pendurado no guidão, diante de um olhar de poucos amigos da funcionária.
- Você vai colocar a bicicleta no estacionamento? – perguntou apontando para a porta lateral, que dava acesso a uma viela de portões abertos que conduzia ao estacionamento no fundo do terreno.
- Não, prefiro colocar no quarto.
- Ah moço, no quarto não pode não!
- Por quê?
- Porque ninguém nunca colocou!
- Ah, pra tudo tem uma primeira vez, né?
- Ah, mas aí você tem que resolver com a recepcionista, ela vai chegar às cinco. Se você quiser dar uma volta e voltar depois...
- Moça, desculpa, mas prefiro esperar aqui mesmo. Pedalei cento e dez quilômetros, então vou ficar por aqui. Me vê por favor uma lata de Coca. – já me acomodando no sofá, enquanto escorava a bike no joelho e tirava a mochila.

Passaram-se longos minutos até que apareceu a tal recepcionista. A primeira funcionária passou a bola:
- Resolve aí com ela – disse num ar meio debochado.
- Qual o problema? – perguntou a recepcionista.
- A moça disse que vocês não tem vagas em quarto de solteiro, certo? Então quero um quarto de casal. O negócio é que quero colocar a bicicleta dentro do quarto.
- Ah, não dá.
- Por quê?
- Ah, tem que subir escada.
- Moça, eu moro na cobertura de um prédio de quatro andares. Subo e desço sempre, isso não é problema – respondi mentindo descaradamente.
- Ah, mas é que o corredor é estreito. Aí a bicicleta não passa.
- Estreito como?
- Ah, assim ó – mostrando uma largura com as mãos de mais ou menos 50cm.
- Ué, então se aparecer uma pessoa gorda para se hospedar não entra? – o sarcasmo junto com o cansaço estavam assumindo o controle.
- Não, mas é que fica difícil.
- Moça, olha só. Se o problema é medo que a bicicleta danifique algo, eu me responsabilizo. Pode fazer um documento aí que eu assino e arco com o que for danificado.
- Mas no estacionamento fica bem guardado, o dono até guarda a bicicleta dele ali.
- Moça, desculpe, a bicicleta é cara e eu não confio. Se você assumir a responsabilidade...
A mulher começou a ficar numa situação difícil, tentou ligar para o dono do hotel sem sucesso. Ligou para o que imagino ser a gerente, que estava na padaria do outro lado da rua e nos assistia pela câmera de segurança, que também negou. Indaguei se podia conversar pessoalmente com a gerente, mas a resposta foi não.
- Qual o hotel mais próximo daqui?
- Ah, só em Além Paraíba...
- Qual a distância? – eu sem paciência.
- Uns trinta quilômetros.
- É... – cocei a cabeça.
- Mas no estacionamento ninguém rouba não. O pessoal deixa o carro aí tranquilo...
- Moça, carro é mais difícil de roubar que bike, né? Se você responsabilizar...
Pegou o telefone de novo, ligou para a gerente.
- O moço da bicicleta tá querendo ir aí falar com você... É, eu sei. Ele disse que se eu me responsabilizar... Tem aquela salinha... Eu liguei pra ele mas não atende. Tá. – desligou.
- Posso ir lá falar com ela?
- Peraí... – disse saindo em direção à tal padaria.
Não demorou nada e voltou:
- Vou quebrar seu galho...
Fez a ficha, e separou as chaves, já atendendo um casal de hóspedes que também acabava de chegar e aguardava o fim da batalha para ser atendido. Por fim, quando a mocinha pegou as chaves e pediu para segui-la, olhou para trás e soltou:
- Quero ver você subir agora... – num arzinho de superioridade e deboche.
- Pra quem já pedalou cento e dez quilômetros hoje, subir dois lances de escada não é nada.
Levantei a bike sobre a roda traseira, segurando no guidão e subi a escada sem frescura. Então fui entender o tal “por que” a bike não passa no corredor. Simplesmente a escada subia até o corredor, que era perpendicular a ela, que por sua vez dobrava à esquerda em outros 90º. A criatura achava que eu ia passar ali com a bike sobre as duas rodas... Tadinha! Seguindo esse raciocínio, o hotel nunca teria mobília.

Finalmente cheguei ao quarto, encostei a bike na mesa e descarreguei os equipamentos. Banho, rango e cama, não sem antes anotar os dados deste primeiro dia:

0km – Juiz de Fora – 9h34
52km – Pequeri – 12h40
63km – Uricana – 13h28
70km – Estevão Pinto – 14h06
78km – Mar de Espanha – 14h39
110,09km – Sapucaia – 16h38
Elevação acumulada: 2804m
Decesso acumulado: 3416m
Tempo de atividade: 07h04
Tempo pedalando: 06h21
Velocidade média: 15,6km/h
Velocidade média em deslocamento: 17,3km/h
Energia consumida: 5093kcal


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Altimetria do dia

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Roupa suja se lava... no hotel!!

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Dia 2 - Sapucaia / Duas Barras 18/10/2012
Expedição Xisdifora - Cabufa MTB

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Sapucaia

O segundo dia começou bem quente. Às 8h40, após um café reforçado no hotel, parti em direção a Aparecida, distrito local. Logo após a Igreja de Santo Antônio, começou a subida forte. O céu estava claro e o sol inclemente já cedo. Pedalei por 8km até atingir os 798m de altitude, lembrando que havia partido da casa dos 200m.

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Igreja de Santo Antônio, em Sapucaia

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Começava aí o sobe e desce. O relevo bem acidentado oscilava sempre entre 700 e 400m. Cheguei em Aparecida às 11h30, após 28 km pedalados. O ritmo tinha caído muito em relação ao dia anterior, por dois motivos: relevo e calor.

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Saindo de Aparecida, cruzei a rodovia BR116 e rumei para Sumidouro. A esta altura algumas nuvens tinham aparecido e amenizavam um pouco a temperatura. Pouco depois o céu limpou novamente e o sol continuou castigando. Mais uma dúvida em outra bifurcação, mas esclareci rapidamente com um morador nas proximidades.

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Aparecida, distrito de Sapucaia

O relevo mostrava-se bem mais acidentado que no dia anterior. Cheguei a Sumidouro, com 360m de altitude, às 13h15. Pelo ritmo da pedalada já começava a me questionar sobre o ponto de pernoite deste dia. Inicialmente o plano era parar em Bom Jardim, mas começava a cogitar uma redução e parar em Duas Barras.

Saindo de Sumidouro pela RJ148, me distraí com um desvio na pista, devido a um ponto onde o asfalto estava cedendo e não percebi a saída da estrada que devia tomar. E como o caminho seguia em paralelo, por algum tempo não notei o erro. Quando percebi, ainda tentei insistir achando novamente que os caminhos se encontrariam. Pedalei em vão, pois, como era de se esperar, tomaram rumos opostos. Voltei cerca de 2km até achar o caminho correto.

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Sumidouro

Seguindo pela localidade de Lajeado, fui atravessando fazendas e hortas, sempre subindo. Cultivo de berinjela, vagem e muitas hortaliças, o que parece movimentar a economia local. Vislumbrava antigas fazendas com paredões de pedras construídos por escravos. O aclive culminou em 842m de altitude, onde meu suprimento de água estava no final. Neste dia o contato com cidades e povoados foi muito pouco, então teria sido prudente me reabastecer de água em Sumidouro. Como não o fiz, tive que recorrer a uma casa à beira da estrada onde pedi água. Foi o único dia em que recorri ao segundo sache de isotônico na parte da tarde. Suava muito devido ao calor, então decidi repor os nutrientes a fim de evitar uma possível câimbra. Parei próximo a um bananal.

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Faltando 10km para chegar em duas barras, encontrei uma venda onde tomei uma lata de Coca e colhi algumas informações. Além disso, comprei mais água. Fui recomendado a me hospedar em Duas Barras, pelo custo mais em conta e pela curta distância a percorrer. Se resolvesse atingir Bom Jardim, seriam cerca de 30km a mais e várias subidas, objetivo que eu não deveria alcançar antes das 18h00. Como pretendia evitar pedalar no escuro, apesar de ter levado farol, estava tendendo a pernoitar em Duas Barras mesmo.

O trecho final era bem plano, com algumas descidas. Comparando com o resto do dia, esta parte foi bem tranqüila. Chegando a Duas Barras, pesadas nuvens se acumulavam no horizonte a nordeste. Como o rapaz da venda indicara, parecia que ia cair uma tempestade à noite. Diante da incerteza em relação ao clima, decidi finalmente por ficar aquela noite em Duas Barras.

Entrei na cidade e localizei a pousada que já havia pesquisado na internet. Como a proprietária já estava acostumada com hóspedes cicloviajantes, não tive nenhum problema em guardar a bike em local seguro e adequado.

Alojei-me, tomei um banho e parti para a refeição. Ao me pesar em uma farmácia, percebi que tinha perdido cerca de 2kg em relação ao peso antes de iniciar a viagem. Boa parte eu tinha certeza que era líquido transpirado no decorrer daquele dia, então não hesitei em repor cerca de um litro de Coca-Cola enquanto estava no restaurante. Macarrão à carbonara foi o prato do dia. Como mais tarde ainda era capaz de comer algo, apelei para uma porção de filé com fritas. Proteína, carboidratos e sais minerais estavam repostos. Fechei o dia com os seguintes números:

0km – Sapucaia – 8h40
28km – Aparecida – 11h30
46km – Sumidouro – 13h15
76,89 – Duas Barras – 16h12
Elevação acumulada: 2231m
Decesso acumulado: 1899m
Tempo de atividade: 07h32
Tempo pedalando: 06h05
Velocidade média: 10,2km/h
Velocidade média em deslocamento: 12,6km/h
Energia consumida: 5240kcal


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Altimetria do dia

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Dia 3 - Duas Barras / Sana 19/10/2012
Expedição Xisdifora - Cabufa MTB

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Muitas maritacas em Duas Barras

Após um excelente café da manhã, parti de Duas Barras às 9h10. A temperatura estava mais amena e as refeições da noite anterior pareciam ter fornecido toda a energia necessária para o pedal. O dia amanheceu com céu limpo, mas gradualmente foi nublando. A região, já adentrando na serra, exibia belíssimas formações rochosas bem escarpadas. O caminho ia serpenteando em vales entre os paredões. Avistava ao longe fazendas centenárias. Estava a pouco mais de 550m de altitude.

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Duas Barras

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Fazenda centenária

Logo deixei o caminho principal pela esquerda e iniciei uma subida forte em direção a Banquete, atingindo um cume de 877m. Realmente se este trecho tivesse sido percorrido no dia anterior, entraria pela noite ainda pedalando. E não teria me deliciado com uma jabuticabeira carregada de frutos providencialmente plantada à beira da estrada, na qual investi alguns minutos que no dia anterior seriam preciosos.

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Descendo novamente, alcancei a localidade de Banquete, distrito de Bom Jardim, a cerca de 600m de altitude. A região, cortada pelo Rio Grande, chamou a atenção por, vez ou outra, aparecerem no caminho placas indicando locais seguros em caso de chuva forte, frutos talvez de algum plano de emergência após as fortes chuvas de janeiro de 2011. Olhando com mais atenção nas margens do rio dava para perceber muito material arrastado pela correnteza, como troncos e lixo presos em obstáculos naturais.

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Banquete

Pouco depois entrava em Bom Jardim, cidade que não me chamou nenhuma atenção. Segui rumo a São José do Ribeirão, outro distrito de Bom Jardim, agora por asfalto. O trecho iniciou subindo suavemente. Parei em um posto de gasolina na saída da cidade, onde fui muito bem atendido, para tomar um refrigerante, deixando para comer alguma coisa em São José do Ribeirão.

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A subida suave continuava, culminando em 678m de altitude, descendo a seguir até 580m em São José do Ribeirão. No último quilômetro antes do distrito já estava novamente em estrada de chão. O local é bem pequeno, e todo o movimento se concentra em uma praça central. É o segundo reduto colonizado por europeus no estado, que vieram de Nova Friburgo, cidade à qual o distrito pertencia anteriormente.

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São José do Ribeirão

Sabia que dali em diante só poderia ter subida, pois a próxima parada seria São Pedro da Serra, local onde só era possível chegar após transpor a serra. Lembrava ainda do ponto culminante de todo o percurso: 1100m de altitude, localizado neste próximo trecho. Ou seja, havia muito a subir.

A temperatura continuava agradável e não havia sinais de cansaço. O estradão seguia, cada vez mais contornando o relevo que se tornava mais imponente em grandes pedras. No entanto, o deslocamento era tranquilo e o ritmo estava até acima do esperado. Uma subida contínua, mas suave. O céu nublado colaborava, pois já era início da tarde. Foi um longo trecho sem contato com civilização.

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Próximo dos 900m de elevação, cheguei em um campo aberto com extensas plantações de roseiras. Estava em Vargem Alta, outro distrito de Nova Friburgo, responsável pela produção de rosas, cravos, crisântemos e hortaliças. As culturas estendiam-se a perder de vista. Nunca tinha visto este tipo de plantação tão de perto.

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Vargem Alta

Segui mantendo o giro dos pedais, deixando toda aquela beleza para trás. Atingi os 1000m de altitude às 14h00, e pouco depois abandonei a estrada em que estava, que levava diretamente a Nova Friburgo, e segui à esquerda por um caminho para São Pedro da Serra. Nuvens escuras começavam a se avolumar no horizonte e cada vez ficavam mais próximas. Os paredões de pedra ficavam mais imponentes e lá no topo um nevoeiro começava a se formar, o popular “russo” estava chegando.

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Subindo mais um pouco, contornando propriedades com plantio de eucalipto que misturava-se ao relevo e à mata nativa, alcancei finalmente os 1100m, num ponto onde o GPS já começava a sofrer perdas de sinal e interferências devido aos obstáculos naturais. Logo se descortinou um horizonte magnífico com uma cadeia de montanhas ao fundo, no centro do qual estava a Pedra Aguda, que se destacava com seus 1340m de altitude do entorno, localizada no município vizinho de Barra Alegre.

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Pedra Aguda

A descida agora era tudo que restava neste dia. Percorri um longo trecho em meio à Mata Atlântica, até atingir São Pedro da Serra, despencando dos 1100m até 789m de altitude em um traçado bem sinuoso e divertido. Era excelente soltar os freios depois de tanta subida.

O tempo estava virando e ao entrar no distrito percebi uma fina garoa começando. A temperatura tinha caído e começava até a fazer um pouco de frio. O céu agora estava todo coberto por muitas nuvens escuras. Sem demora segui para Lumiar, outro distrito de Nova Friburgo, bem próximo. O local pareceu ser bem agradável e bonito, mas preferi não parar temendo pegar chuva no final do dia.

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São Pedro da Serra

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Lumiar

Agora já estava novamente no asfalto e assim o caminho continuou por muitos quilômetros. Uma longa descida onde a garoa, neblina e vento faziam a sensação térmica baixar mais ainda. Visitei o encontro dos rios Macaé e Bonito, acessado por uma pequena trilha à direita da estrada.

O tempo só piorava e comecei a rever meus planos para o trecho final deste dia. Estava previsto abandonar o asfalto à direita, cerca de 4km após a Ponte Santa Luzia, sobre o Rio Macaé. Até a ponte foi só descida e atingi os 500m de altitude. Em seguida uma subida que levava de volta aos 637m de elevação, com visuais deslumbrantes de onde se via o vale do Rio Macaé logo embaixo correndo aos pés da serra, com a Pedra Riscada ao fundo. A serração cobria o topo das montanhas e a garoa era intermitente. A descida continuava até os 550m e o trecho off road previsto retomaria uma subida até os 730m onde então desceria até encontrar novamente com a Rodovia Serramar no Portal do Sana.

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Encontro dos Rios Bonito e Macaé

Decidi continuar descendo o asfalto e evitar este último trecho, pois havia a preocupação com a possibilidade de chuva e com o anoitecer, pois havia perdido algum tempo fotografando o encontro dos rios. Apesar de servir para descansar e acelerar, este trecho foi um pouco monótono por ser somente asfalto.

A surpresa do dia ficou por conta da localização de Sana, pois achava que este distrito de Macaé se localizava próximo à rodovia. Havia feito confusão com o Portal do Sana, achando que por ali já teria pousada e estrutura para alimentação. No entanto, fui presenteado com mais 7km em estrada de chão, subindo (pois estava agora em 200m de altitude e chegaria aos 326m). Como não havia mapeado este trecho com o Google Earth, fui acompanhando as indicações para chegar ao arraial.

Pelas placas de propaganda de pousadas pelo caminho fui escolhendo onde ficaria e acabei me preocupando com algo que deixei passar despercebido no meu planejamento: era uma sexta-feira, dia em que há maior movimento de turistas chegando. Corria o risco de ter dificuldades em conseguir hospedagem. Algo que colaborou para acelerar a pedalada e chegar o mais rápido possível. Porém, tive a sorte do local estar vazio já que a previsão do tempo nos sites especializados indicar chuva para aquele final de semana, e acho eu que esta foi a causa de, logo de cara ter conseguido vaga em uma pousada muito boa e bem localizada, bem no centro do arraial. Queria algo perto de um local para poder comer, pois geralmente as pousadas não servem refeição noturna, e este era o caso.

Entrei em Sana às 17h40, botei a bike dentro do quarto sem qualquer objeção e me acomodei. Tomei um banho e fui dar sinal de vida para os familiares via orelhão, já que celular e internet ainda não chegaram naquele lugar.

Comi uma deliciosa lasanha de camarão e fui para o quarto tabular os dados deste dia:

0km – Duas Barras – 9h10
27km – Banquete – 11h10
34km – Bom Jardim – 11h35
41km – São José do Ribeirão – 12h05
53km – Vargem Alta – 14h00
66km – São Pedro da Serra – 15h05
72km – Lumiar – 15h19
105,11km – Sana – 17h43
Elevação acumulada: 2511m
Decesso acumulado: 2746m
Tempo de atividade: 08h33
Tempo pedalando: 06h50
Velocidade média: 12,3km/h
Velocidade média em deslocamento: 15,3km/h
Energia consumida: 5008kcal


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Altimetria do dia

Fat Biker XC [+]
Dia 4 - Sana / Cabo Frio 20/10/2012
Expedição Xisdifora - Cabufa MTB

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Pousada em Sana

Começava o último dia da aventura. Após a já tradicional lubrificação dos componentes da bike, fui tomar o café da pousada. Tirei algumas fotos e fui fechar a mochila para largar. Nesta manhã senti falta de uma fruta, pois a maior parte dos alimentos eram pães e bolos.

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Sana

Sentia um cansaço nas pernas, que conseguia explicar por uma das duas situações: pela pouca ingestão de proteínas os músculos não haviam se recuperado totalmente do esforço do dia anterior ou o descanso não havia sido suficiente, já que havia cochilado assistindo televisão e só fui dormir para valar mesmo após meia-noite.

De toda forma, iniciei a pedalada com a mochila um pouco mais leve devido aos suplementos já consumidos ao longo dos dias e tinha colocado um pouco menos de água na caramanhola maior (cerca de 300ml), porque supunha uma pedalada mais tranqüila devido ao relevo menos acidentado. Apesar disso, como coletava esporadicamente algumas pedras pelo caminho, meus “souvenires” de viagem, acredito que tenha ficado praticamente empatado.

O céu estava claro e a paisagem era deslumbrante, com o Rio Sana correndo entre as pedras e um amplo pasto ao redor, emoldurado pelas montanhas. Boa parte da estrada era acompanhada pelo rio.

Bem à beira do caminho, encontrei uma casa com uma banca montada bem em frente, onde vendiam bananas. Pronto, resolvido o problema da falta de frutas. Queria comprar apenas uma banana, pois era para consumo imediato e nem tinha onde levar mais. A senhora que estava na casa, generosamente não quis cobrar e insistia que eu levasse mais, pois achava que uma só seria pouco. Agradeci, ficando apenas com uma mesmo, e segui meu caminho.

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Como este trecho inicial não estava no mapeamento inicial, não me atentei ao GPS e desci desnecessariamente ao Portal do Sana, onde percebi que já tinha passado do ponto onde iniciava o traçado programado do último dia e já estava fora da rota.

Voltei e vi que o traçado seguia pela Estrada da Boa Vista, cuja placa eu havia visto no dia anterior e notado que de cara havia uma subida bem íngreme. Sem pestanejar entrei na tal estrada e logo já estava bufando na subida. Até onde a vista alcançava era subida e o caminho se escondia lá em cima no meio da mata. Coroando tudo, uma montanha pontiaguda à direita. Lembrava da altimetria do último dia, que se iniciava com uma subida forte, mas não havia guardado qual era o desnível.

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O negócio era concentrar nos pedais e vencer a subida. Pedalei cerca de 3km e a subida não acabava. O calor só aumentava. A inclinação aumentou e a solução foi pular da bike e empurrar morro acima. Olhava para trás e a visão da Serra de Friburgo era belíssima, cada vez que subia mais, mais montanhas eu conseguia avistar e mais o horizonte se ampliava.

Em uma das últimas curvas havia um frondoso pé de jaca, onde parei sob a sombra para descansar. Que vista!

Faltavam cerca de 20m de ascensão para vencer a subida, o que dava uns 200m de caminhada. Cheguei lá em cima e logo o celular apitou mostrando que recebera um sms. Era a família querendo notícias. Aos 700m de altitude tentei mandar um sms, que ficou preso na caixa de saída. Como queria logo chegar, resolvi não ficar perdendo tempo tentando enviar e segui meu rumo.

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Topo da última grande escalada da expedição

Começou o último downhill do rolé: despenquei até os 90m de altitude, passando próximo à pedra Bicuda Pequena. Parecia que a descida não acabaria; a cada curva via lá embaixo o pasto dividido pela estradinha que nunca chegava. Eram cerca quase 11h00 e o calor intenso já tinha me levado a consumir boa parte da minha provisão de água.

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Bicuda Pequena

Parei em uma venda, comprei o tradicional refrigerante e completei a caramanhola com água. O próximo destino era Rio Dourado, distrito de Casimiro de Abreu. A altitude pouco variou daí para frente, apenas duas elevações no trecho até Rio Dourado passaram dos 120m. Nessa hora o sol brilhava forte e tornava as coisas mais difíceis. Algum vento contra impedia de prosseguir com maior velocidade. Nos momentos que não ventava, no entanto, o calor era infernal.

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Cruzei a BR101 e entrei em Rio Dourado, onde completei novamente os reservatórios de água, pois haveria um longo trecho a seguir sem comércio. Finalmente o sms enviado do alto da serra saiu do celular e começaram as comunicações informando previsões de chegada e a troca de notícias. Meu percurso novamente se confundiu com o da Rodovia Serramar, mas por pouco tempo. Fiquei aliviado, pois naquele trecho o tráfego de caminhões era intenso, ao contrário de Lumiar onde tal tipo de veículo é proibido. Logo abandonei a rodovia por uma estrada vicinal à direita e rumava agora entre várias fazendas, em uma imensa planície, em direção a São João da Barra, outro distrito de Casimiro de Abreu.

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Rio Dourado

O vento agora ajudava e o ritmo era constante, girando a quase 30km/h. Neste ritmo chegaria a Cabo Frio em cerca de duas horas. A última elevação na região, o Morro de São João (segundo alguns, um vulcão extinto) crescia ao longe. Passaria em seu sopé, admirando sua imponência.

Um pouco adiante, já avistando a leste algumas casas de Rio das Ostras, o estradão em que estava tomava a direção Sudoeste enquanto o GPS indicava Sudeste. Me restava pular uma porteira e seguir no singletrack em linha reta que rasgava o pasto e acompanhava a cerca que limitava uma fazenda. Com isso o ritmo caiu consideravelmente para cerca de 18km/h e meu horário de previsão de chegada começava a furar.

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Morro de São João ao fundo

Pedalei um longo trecho nestas condições, até aparecer outra porteira, esta com um passa-um, e o caminho embicar para SSW margeando um trecho de mata preservada. Finalizei o singletrack em outra porteira que tive que pular e finalmente fazia novo contato com a civilização. Estava chegando em Barra de São João.

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O lugar chamou atenção principalmente por seu casario histórico, bem preservado, às margens do Rio São João, que é limítrofe entre Cabo Frio e Casimiro de Abreu. As construções abrigaram órgãos públicos na época em que o distrito era a sede do município. Num cemitério próximo está enterrado o filho ilustre da cidade, o poeta Casimiro.

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Barra de São João

Em poucos metros deixava para trás o calçamento de paralelepípedos da área histórica e entraria no asfalto da Rodovia Amaral Peixoto (RJ 106). Atravessando a ponte sobre o Rio São João, uma ponte antiga que está em ruínas, mais próxima à foz do rio, chamou a atenção. Foi construída em 1942 para atender uma ferrovia que nunca funcionou plenamente. Foi desativada em seguida e o tráfego de automotores foi direcionado para ela, cuja estrutura começou a dar sinais de colapso em 1959, quando ficou autorizado somente o trânsito de pedestres. Foi construída a atual ponte e a antiga ruiu na década de 1970.

A rodovia seguia, bem movimentada. Agora o objetivo era chegar o mais rápido possível. A parte mais divertida tinha ficado para trás e a ordem agora era fazer força nos pedais. Com o vento a favor, a velocidade oscilava entre 33 e 38km/h. O GPS apontava pouco mais de 20km para chegar. A vontade de chegar era tanta que parei de prestar atenção ao traçado no aparelho e me ater apenas em dados como velocidade, distância faltante e tempo faltante para a chegada.

Passei pelo trevo que dava acesso a Búzios. Num dos traçados iniciais uma das rotas passava por ali, quando ainda pensava em 5 dias de pedal, mas cortei a cidade na edição final. Foram tantas alterações de traçado, principalmente na região serrana, que me preocupei mais em estudar aquela parte do percurso detalhadamente. No litoral não tinha mistério, era seguir para Cabo Frio. E com isso, me esqueci de um pequeno trecho off road que seguia entre a estrada Cabo Frio / Búzios e a rodovia em que estava. Em uma das trocas de função do GPS notei que estava fora do traçado. Vi que tinha percorrido cerca de 2km além do ponto onde deveria ter saído da estrada.

Pensei bem e a vontade de chegar logo falou mais alto. A lógica era de que pelo asfalto chegaria mais rápido, com menos esforço. Optei por não voltar ao ponto e sim permanecer no asfalto, já que sabia que esta rodovia passava por Cabo Frio. E com esta idéia prossegui esmagando os pedais, mantendo a velocidade alta. Longas retas se sucediam e a distância de chegada não diminuía. Estava abrindo uma volta ao redor do meu ponto de chegada. Sabia que em dado momento o número ia cair, pois o aparelho recalcula a distância quando se afasta muito da rota inicial.

Com isso, em certo ponto o número pulou para os 18km. Pouco depois eu cheguei em São Pedro D’Aldeia, às margens da Lagoa de Araruama. Faltavam cerca de 17km para o ponto de destino, mas o vento agora era contra. A velocidade caiu para míseros 13km/h e melhorava somente quando o vento soprava lateralmente ou mesmo a favor. Segui naquele esforço final até a entrada de Cabo Frio, onde o vento amenizou um pouco.

Logo estava avistando a bandeira brasileira sobre o Morro da Guia e cruzando o Canal do Itajurú sobre a ponte Feliciano Sodré. Segui em direção ao bairro da Passagem, para enfim, chegar ao Forte de São Mateus. A missão estava cumprida.

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Finalmente a praia!

Resumo do dia:

0km – Sana – 8h40
22km – Bicuda Pequena – 11h00
40km – Rio Dourado – 12h00
61km – São João da Barra – 13h30
93km – São Pedro D’Aldeia –14h47
110,92km – Cabo Frio – 15h47 (Forte de São Mateus)
Elevação acumulada: 1397m
Decesso acumulado: 1607m
Tempo de atividade: 07h24
Tempo pedalando: 06h06
Velocidade média: 15,0km/h
Velocidade média em deslocamento: 18,1km/h
Energia consumida: 5139kcal

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Altimetria do dia

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Souvenires

Resumo da viagem:

Total percorrido: 403,01km
Elevação acumulada: 8943m
Decesso acumulado: 9768m
Tempo de atividade: 30h33
Tempo pedalando: 25h24
Velocidade média: 13,19km/h
Velocidade média em deslocamento: 15,9km/h
Energia consumida: 20480kcal

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Altimetria da viagem

2 comentários:

  1. Show de mais, estou doido pra fazer essa viagem tb, porém a minha vai ser de São João Nepomuceno. Tive que adiar 2 vezes, mas uma hora sai.

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  2. Boa tarde,

    gostei muito o caminho que você fez... Será que você tem uma mapa completa desta viagem? Talvez até os dados para um GPS/Strava? Gostaria fazer os ultimos 3 dias desta viagem.... Se você tem os dados, eu estaria muito feliz se você poderia entrar em contato comigo (v.steier@gmx.de)
    Grande Abraço, Volker

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